Search This Blog

Saturday, August 23, 2025

Crédito e transações correntes entre Brasil e EUA: Quem sabe faz a hora do jogo da galinha. Não espera acontecer!


O jogo da galinha é um modelo clássico da teoria dos jogos que ilustra uma situação de conflito e cooperação entre dois jogadores. Esse jogo é às vezes conhecido como jogo entre o falcão e a pomba.
 O núcleo do jogo envolve dois jogadores escolhendo entre duas ações: "desviar" ou "desafiar". O melhor resultado para um jogador é ousar enquanto o outro desvia. No entanto, em sala de aula ou livro texto, se ambos os jogadores ousarem, o resultado é negativo para ambos.

Mas, na vida real é uma audaciosa estratégia a ser adotada para negociar e surpreender o Presidente Trump, pois este tem uma única característica – tudo é transacionável! Sem dar spoiler o ideal é ver o resultado do jogo na vida real num filme de James Dean 

(https://www.youtube.com/watch?v=sDFnYvKl1LU);  

(https://www.youtube.com/watch?v=BGtEp7zFdrc).

O jogo deveria ser jogado entre nosso “rebelde com causa” a ser vivido pelo  Ministro da Fazenda Fernando Haddad do Brasil e o Secretário de Tesouro Scott Bessent dos EUA. Nosso ministro deveria informar pelos meios de comunicação oficial e reservada  – ao FMI, BIS , Banco Mundial, NDB, e o BID por sermos membros dessas instituições financeiras internacionais - que devido à imposição das tarifas pelo Governo Trump  o Brasil estará entrando provavelmente numa parada repentina que significa “it is not the speed that kills, it is the sudden stop”.

De fato, o BACEN, a CVM, o BNDES, a Receita Federal e os assessores governamentais deveriam subsidiar o Ministro com dados das seguintes séries históricas desde os anos oitenta do século passado até o momento presente, tanto para o total do Brasil quanto para os EUA para mostrar uma análise sobre a evolução: a) das linhas de trade finance tomadas em dólares dos bancos norte americanos pelos bancos brasileiros que são registradas e monitoradas pelo Bacen, tanto de entrada quanto de saída; b) da entrada e da saída de capital norte americano de curto prazo para aplicação em ativos privados e públicos em bolsas brasileiras, neste caso  desde 1993; c) da entrada de capital e repatriamentos de lucros e de capital estrangeiro norte americano assim como o total aportado no Brasil  para utilização principalmente nas empresas no Brasil que praticam o comércio intra firma; e d) o valor dos financiamentos já firmados pelo Eximbank norte americano para a modernização das nossa usinas nucleares.   

Exatamente por ter tido um adiamento de sete dias da entrada em vigor do tarifaço, e, já terem sido excluídos diversos produtos exportados pelo Brasil da incidência e da majoração de 50%, agora será a hora para o Secretário Scott Bessent pedir uma reunião fechada com Ministro Fernando Haddad, e este deveria aplicar a estratégia do jogo da galinha.   

Na ocasião dessa reunião, que só deveria ocorrer após o Ministro Haddad falar com as contrapartes nas instituições multilaterais de financiamento, o mesmo deve informar à Bessant que a incerteza tarifária já está levando à parada da produção e entrega dos pedidos em carteira que estão nas mãos dos exportadores. Aliás, já há vozes vindas do setor privado para que sejam adotadas medidas para estender, no Brasil, o prazo de concessão para o financiamento às exportações via ACC. Isso significa que o circuito de crédito de exportação está começando a dar sinais de fricções. De fato, está se iniciando um período a observar dificuldades de renegociação das dívidas que o setor exportador tem com os Bancos, no Brasil.

Cumpre observar que as fontes de recursos financeiros usadas pelos Bancos Brasileiros para se dar crédito aos exportadores – notadamente privados – são linhas de trade finance em dólares obtidas junto principalmente aos bancos norte-americanos. E, os Bancos brasileiros pagavam libor ou pagam sfor e mais um prêmio de risco por essas linhas. Esses recursos financeiros, por sua vez, são usados para emprestar aos exportadores brasileiros que tem boas e concretas ordens de compra do exterior. Por sua vez, hoje como sempre, os exportadores principalmente os ligados às empresas familiares tem de assinar aval pessoal ou garantia real para servir de colateral no caso de inadimplência.

O fato é que essas linhas de trade finance em dólares é que irrigam o circuito de crédito e exportação de curto e médio prazo no Brasil. E, estamos no fim do ano fiscal “bancário” quando há o início de repactuação das linhas bancárias de trade finance. O problema a ser explicado a Bessant é que com o tarifaço a demanda por produtos de exportação brasileira pelos Estados Unidos vai cair. E, as exportações que serão taxadas serão majoritariamente do setor do agronegócio – carnes, peixes e lagostas, frutas, mel, complexo de grãos, - de bens de consumo final como calçados, roupas, e manufaturas leves como motores e artigos de cutelaria.

Um fato que tem de ser percebido é que a rentabilidade e a produtividade das exportações brasileiras de todos os bens, principalmente desses bens estão declinando. Isso pode ser observado indiretamente pelo número de recuperações judiciais que estão ocorrendo no centro oeste brasileiro. E, como há muitas empresas exportadoras brasileiras que são sociedades anônimas de capital fechado, uma breve analise dos balanços mostra um nível de levarage  preocupante e se houver reversão do sentimento de mercado em relação às perspectivas do mercado internacional, principalmente daquelas empresas que são orientadas para atender ao mercado norte americano se fará necessário fazer reestruturações e trocas de dívidas. Isso vai ocorrer pela rápida retirada de crédito às exportações de fontes em dólares  — e não da velocidade da recomposição das linhas de crédito que no passado era denominado como  linhas empoçadas — que pode causar grave instabilidade financeira.

Importa ressaltar que paradas repentinas resultam em rápidas quedas nos fluxos de capital, o que leva a pressão por desvalorização real do cambio, rápido declínio na produção, e eventual recuperação do consumo no futuro.  Frequentemente, a novidade desse choque externo causado pelo tarifaço dos EUA será que o Brasil precisará reequilibrar rapidamente sua conta corrente  com esse país geralmente passando de déficits para superávits por meio de cortes agressivos nos gastos e nas exportações e importações.

Para lidar com essa situação, o nosso “rebelde com causa” deve montar e executar a seguinte estratégia de configuração  do jogo da galinha. Para se preparar se sugere assistir as seguintes cenas do FAST 5 da cronologia cinematográfica do Fast and Furious( velozes e furiosos):  


https://www.youtube.com/watch?v=pPZxiBPN4Co;

https://www.youtube.com/watch?v=EwrhfIOLB3k;

https://www.youtube.com/watch?v=vmm8P0V1W4g

https://www.youtube.com/watch?v=OurCnuyC8zo;

https://www.youtube.com/watch?v=Rko4BW6aXP0.

https://www.youtube.com/watch?v=01czy3fN4SU

Feita essa preparação, caberia apenas ao Ministro desafiar o Secretário de Tesouro norte-americano. Devido ao tarifaço ele dirá que terá de seguir um conselho dado no passado por Lorde Keynes sobre os negócios internacionais- “ Let’s the finance be national.” Isso significa trocar os dólares que financiam as exportações brasileiras, inclusive para os Estados Unidos, por reais. Nesse sentido serão adotadas as seguintes medidas, a saber: a) o Bacen iria reduzir a exigência de taxa de redesconto requerida nos depósitos bancários de forma a fazer leilões de linhas de crédito para exportação em reais da mesma forma que se faz hoje em dia com as reservas internacionais; b) o Bacen emitirá reais contra a entrega de títulos da Secretaria do Tesouro Nacional  para que fossem feito aportes diretos na BNDESPAR para que essa comprasse ações das empresas exportadoras que são de capital fechado e simultaneamente abrisse o capital dessas empresas nas bolsas de valores; c) o Tesouro Nacional irá receber as dívidas dos estados da federação brasileira devido ao acumulo de ICMS nas exportações do último decênio desde que os recursos em reais a serem recebidos pelas empresas exportadoras sejam destinados à constituição de um fundo próprio para financiar operações de pré e pós embarque da própria empresa que seria executado pela área internacional do Banco do Brasil. E, ato contíguo seria editada medida provisória que revogaria a frase do Código Tributário Nacional que obriga os Estados a ressarcirem o credito acumulado de ICMS nas exportações. Isso significa que se mantém a isenção do ICMS para manter o principio constitucional de não se exportar impostos, mas a figura do acumulo de ICMS que fere os princípios do Gatt-Omc será adequada à pratica internacional.

Face à “troca forçada de reais por dólares” para financiar as exportações de curto e médio prazo nacionais, o Ministro dirá que a Secretaria do Tesouro Nacional lançará títulos verdes brasileiros de longo prazo - dentro da estratégia de transição ecológica - junto aos bancos norte americanos.  Esse lançamento será na proporção do valor total das linhas de trade finance. Esses recursos em dólares serão usados para a formação de joint ventures nos Estados Unidos entre empresas brasileiras e norte-americanas nos setores de siderurgia, laminados, processamento de  frutas, pescados, rochas ornamentais, madeira e até bens de consumo. Em outras palavras, com isso se reforçará a complementaridade produtiva entre o Brasil e os Estados Unidos.

Para desafiar o Secretário Bessant caberia informar que caso o exposto acima não fosse aceito os empréstimos do Eximbank já firmados para modernizar a usina de Angra dos Reis seriam cancelados. E, para não descomissionar toda a unidade será analisada a proposta russa de modernização para recuperar essa usina.

Ao propor a estratégia do jogo da galinha com esses elementos veremos que Bessant irá se desviar para não confrontar e assim propor uma estratégia que reduza o efeito do tarifaço aos dez por cento propostos em abril, e aceite o fundo para a compra dos ativos norte-americanos para a recuperação de unidades industriais face à competência do empresariado nacional. Estes já possuem unidades de processamento de bens como laranja, cerveja, de carnes, e algumas siderúrgicas. E, de quebra aceitará ainda as nossas iniciativas de adequarmos a nossa taxação as boas praticas internacionais, e, também trocarmos as linhas de trade finance de dólares por reais para o curto e médio prazo visto que os recursos em dólares serão investidos nos EUA. 

Isso é uma situação racional e de ganha-ganha para ambos os lados. Sem dúvida, isso mostra e lembra parafraseando a canção “QUEM SABE FAZ A HORA DO JOGO DA GALINHA NÃO ESPERA ACONTECER”.

.                 CRÉDITO DA MATÉRIA        

·         Mario Cordeiro de Carvalho Junior – Professor da FAF-UERJ 

No comments:

Post a Comment