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Friday, May 30, 2025

Carta ao Brasileiro que Sonha com o Lado de Fora


Há algo profundamente equivocado no coração do brasileiro moderno: um desejo quase desesperado de ser qualquer coisa, menos brasileiro. Nas últimas décadas, trocamos o sonho pelo visto, a identidade pela cidadania alheia, e a esperança por um passaporte estrangeiro — mesmo que o destino seja tão instável quanto a própria fuga.

Lá atrás, o Brasil parecia pequeno demais para nossos sonhos. A América brilhava com seus dólares, a Europa nos seduzia com seus euros, e até os ventos orientais do Japão sopravam promessas de prosperidade. Migrar era sinônimo de vencer. Mas a realidade, como sempre, não cabe nas vitrines. A vida lá fora nunca foi como nos cartões-postais.

Hoje, vivemos uma nova distorção. Com os grandes destinos fechando as portas, surgem os "especialistas" que vendem cidadanias como quem vende ilusões baratas: paraguaia, uruguaia, panamenha, tailandesa, libanesa... Qualquer uma serve, desde que não seja a nossa. Basta um pouco de marketing emocional, um vídeo bem editado no Instagram, e pronto: um exército de brasileiros já está disposto a renunciar à própria história por um documento que, no fundo, não resolve nada.

E é aqui que cabe uma pergunta desconfortável, mas necessária: quando foi que deixamos de acreditar em nós mesmos?

Ser cidadão não é apenas portar um papel, é pertencer, é compreender os códigos invisíveis de um povo, a memória, a língua, o chão. É carregar responsabilidades, inclusive as que vêm com os próprios erros. Trocar de cidadania como se troca de roupa não é sinal de liberdade, é sintoma de abandono, de uma urgência mal digerida de escapar da própria origem.

O Brasil, sim, está longe da perfeição. Temos problemas profundos, históricos, estruturais, mas temos algo que muitos países invejam e poucos reconhecem: a liberdade de começar do nada e, mesmo assim, fazer muito. Aqui, o improviso virou arte, a crise virou ginga, a falta virou invenção. E quem aprende a vencer no Brasil, vence em qualquer lugar.

A verdade é uma só: é mais fácil ganhar dinheiro no Brasil do que em muitos dos países que hoje servem de fuga emocional para quem já perdeu a fé no próprio povo. A diferença é que aqui, para vencer, você precisa acreditar em si mesmo. Lá fora, precisa acreditar que será aceito. E essa aceitação tem um custo que poucos estão dispostos a pagar: solidão, subemprego, exclusão, invisibilidade.

Não se trata de desencorajar quem tem planos sinceros de emigrar. Viver em outro país pode ser um projeto bonito, legítimo, necessário até, mas que seja feito com propósito, preparo, maturidade e sobretudo, conforto financeiro. Emigrar por necessidade é exílio, emigrar por ilusão é suicídio lento. Só vale a pena partir quando ficar já não for mais opção, e não quando o feed do Instagram disser que “lá fora é melhor”.

Antes de desejar outra cidadania, pergunte a si mesmo: - “O que me falta para honrar a que eu já tenho?”

Enquanto muitos correm para fora, outros estão ficando, e construindo aqui, silenciosamente, o Brasil que vai nos fazer querer ficar. Talvez seja hora de parar de correr do país e começar a correr por ele.

CRÉDITO DA MATÉRIA

Carlos Henrique Mascarenhas Pires é jurista, de Belo Horizonte, MG, com dupla cidadania (brasileira e espanhola), e esse texto originalmente está estacionado em seu blog na plataforma WordPress:. só clicar no link: Carta ao Brasileiro que Sonha com o Lado de Fora

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